Como falei em alguns dos últimos posts, minha formatura ocorreu no último sábado. À medida que ela se aproximava, eu cheguei a sentir algumas pressões, vindas de outras pessoas e vindas também de mim mesma. Eu reconheço, no entanto, que fui inteligente o suficiente para usar esse momento da minha vida como um convite à reflexão, em vez de afundar num mar de cobranças sociais.
O meu curso de graduação, de certa forma, prepara os alunos para que continuem no meio acadêmico, nos induzindo ao mestrado. Isso é feito pela forma como as provas são preparadas, porque muitas delas contém questões da prova do mestrado em Economia, que é chamada de Anpec, e pela expectativa dos professores em nos ver seguindo o mesmo caminho que eles.
Até certo momento do curso eu tinha na cabeça a ideia fixa de que faria mestrado na mesma área da graduação. "Eu tenho que seguir aprendendo cada vez mais sobre o que venho aprendendo na graduação" era um pensamento comum. Até que, ao me deparar com o empenho que alguns colegas demonstravam ao estudar para a Anpec, eu notei que o meu amor pela Economia não era grande o suficiente para passar pelo mesmo processo. Talvez até fosse, mas não seria capaz de passar dois anos estudando pesado num mestrado e, depois, atuando na área.
Apesar de ser ainda mais difícil admitir que eu queria, de coração, mudar de área após a graduação, eu resolvi que faria isso. A minha mãe foi uma das primeiras pessoas a saber e, como sempre, apoiou a minha decisão. Desse momento em diante, vários questionamentos começaram a surgir. No período em que a Anpec ocorreu, um dos meus professores perguntou, surpreso, o porquê de eu não ter ido fazer a prova. Num outro momento, fui questionada, por um outro professor, sobre como faria para comer, caso a profissão que eu escolhesse não desse dinheiro. Para ele, seguir na profissão era um caminho certeiro.
Dos doze formandos do meu curso no último sábado, quatro haviam se submetido à Anpec e sido selecionados por algumas universidades. Na semana anterior à formatura muita coisa veio à minha cabeça sobre isso. Eu também poderia estar com um caminho "certo" a seguir, dizia uma voz na minha cabeça. "Mas por que tu não tentou também?", perguntava uma das minhas irmã. Tudo isso tentava me abalar emocionalmente. Era como se eu também tivesse que ter a estabilidade de um mestrado para cursar, como os meus colegas, mesmo que não fosse algo que eu de fato quisesse.
Talvez alguns de vocês já tenham passado por coisas parecidas, não apenas em relação ao lado profissional, mas ao padrão que nos é imposto. Quando tudo isso tentou me enfraquecer, eu lembrei da minha coragem de buscar o que realmente quero e acredito que pode me fazer feliz. Dizer "não" fez parte. Eu disse "não" à Anpec, mesmo quando me sugeriram que ela poderia ser uma segunda opção de conseguir algo após a graduação. Mas como assim? Desde quando algo que eu sinto que não quero pode ser uma opção? Eu estaria sendo muito cruel comigo mesma ao fazer isso apenas para garantir uma certa estabilidade ou, ainda pior, para mostrar às demais pessoas que estava bem encaminhada na vida.
O "não" que eu disse à Anpec foi um "não" também para a minha infelicidade profissional. Dizer "não", mesmo sabendo que ao dizer "sim" eu estaria mais confortável, foi libertador. Foi a minha forma de dizer que havia dentro de mim coragem o suficiente para sair da zona de conforto. Foi a minha forma de decretar que seguiria o meu caminho e não o caminho que as pessoas queriam dizer ser o meu. E fazendo um balanço disso tudo agora, se o preço a pagar é toda essa cobrança dos outros, eu pago. Com certeza, vai custar mais barato do que viver uma vida onde não posso expressar aquilo que sou e aquilo que nasci para fazer com amor.
O nosso caminho não precisa ser igual ao de ninguém e mesmo que sintamos que seguimos um caminho diferente até aqui, podemos mudar isso a qualquer momento. Não depende das pessoas, não depende das circunstâncias, não depende de nada. Essa decisão só depende de nós mesmos. Ao escolher algo, estamos sempre deixando de escolher outras coisas. Então, estaremos sempre pagando um preço. Que o preço a ser pago seja por coisas que realmente nos toquem internamente.
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