sábado, 20 de setembro de 2014

Intercâmbio: a minha história

Entre conflitos e risos, a realização pessoal.
Hoje, um ano depois de começar a pensar seriamente em fazer um intercâmbio e, enfim, ter coragem de me inscrever para um, vejo o quanto tudo aconteceu de maneira perfeita.
Até pouco tempo antes de me envolver no processo de seleção eu nem sabia ao certo o que era e como poderia fazer um intercâmbio. Algumas pessoas do meu curso já haviam ido à Portugal, mas minha vontade de fazê-lo ganhou força depois que uma colega com quem eu tinha maior proximidade foi para Coimbra. Através dela eu passei a ter mais noção de como fazer um intercâmbio e de que o mesmo não era algo impossível.
Após me inscrever e passar nas duas etapas seletivas, e reunir, com muita dificuldade e pouco tempo, todos os documentos necessários, era hora de partir para terras estrangeiras.
Ah, antes disso, também conheci a única pessoa da universidade que havia se inscrito para o mesmo lugar que eu, e que, há pouco tempo atrás, me revelou que pensou várias vezes em desistir de ir e que sempre pensava "Quando essa menina desistir, eu desisto também". Quando ela me contou sobre isso, eu só respondi: "Então você nunca desistiria".
A minha vontade de mudar de ares era grande demais. Cresci numa cidade pequena do interior da Bahia e não tenho conhecimento de moradores daqui que tiveram a mesma oportunidade que eu.
Na época, completava um ano e meio que eu havia me tornado bolsista da Universidade Estadual de Feira de Santana (Uefs) pelo Pet (Programa de Educação Tutorial), logo após abandonar o cargo de secretária de uma advogada. Também fazia curso de espanhol na universidade. Como meu curso é noturno, todo o meu dia, praticamente, era vivido na Uefs. E era algo que me agradava muito. Só que, mais uma vez, eu precisava mudar o cenário da minha vida e viver histórias novas e diferentes. E o intercâmbio era a melhor maneira de fazer isso.
A primeira semana em Santiago de Compostela, Espanha, foi maravilhosa. Apesar de todo o frio. Apesar de alguns perrengues. Apesar de não conhecer ninguém. Apesar de estar longe das pessoas que mais amava (e que continuo amando).
Mas com o tempo, isso tudo começou a pesar e a despertar sentimentos que eu não imaginava que fosse sentir pelos próximos seis meses. Eu já não gostava de frio, mas não sabia que era possível odiá-lo tanto; e foi com muito frio, chuva e vento que a Europa me recebeu e me acolheu durantes a metade do meu intercâmbio. Eu também não imagina que saudade pudesse doer tanto ao ponto de sair pelos meus olhos e rolar pelo meu rosto durante inúmeras vezes. Pra completar, eu amava minha própria companhia, mas era difícil fazer algumas coisas sozinha.
Durante mais ou menos um mês e meio parecia que meu sonho havia se transformado em algo totalmente contrário e, algumas vezes, tudo que eu pedia a Deus era pra que o tempo passasse depressa, para que julho, mês que eu retornaria ao Brasil, chegasse logo.
Mas, enquanto isso não acontecia, eu decidi conhecer mais a cidade. Domingo passou a ser, impreterivelmente, o dia de sair de casa sem destino e voltar para ela com algumas histórias, ou alguns quilinhos a mais e uns euros a menos, rs.
Parecia uma tentativa boba de tentar driblar meus sentimentos e pensamentos confusos, mas sair sozinha acabou se tornando algo simplesmente maravilhoso. Também pode parecer algo simples, aos olhos de outras pessoas, mas, para mim, era algo corajoso e eu me sentia Liz Gilbert em sua autobiografia "Comer, Rezar, Amar".
Me dedicar aos estudos foi algo que também tirou a minha atenção de coisas que não me faziam bem. Além do mais, estudar na Universidade de Santiago de Compostela me fez gostar ainda mais do meu curso. Não é que a universidade tenha algo especial, é que eu estava entendendo tudinho, mesmo tendo que estudar, ler e apresentar em dois idiomas estrangeiros (espanhol e galego), e mesmo estando em um ambiente diferente e que antes me causava anseio.
O clima frio não era muito bom, ainda não havia feito amigos de verdade, a família não estava por perto, não gostava das festas, não achava graça nos europeus (europeus = homens héteros). Mas eu me sentia mais livre, estava aprendendo a cozinhar, estava indo bem na universidade. E, no fundo, sabia que tudo o que eu estava vivendo era necessário para o meu fortalecimento espiritual, como uma vez falou um homem que conheci na catedral da cidade e como a personal trainer da academia que passei a frequentar também me disse.
Depois de fazer a primeira viagem com as pessoas que dividiam apê comigo, e de ser beijada de surpresa e em plena luz do dia por um madrilenho, passei a querer viajar e viajar e viajar...
As próximas viagens foram feitas também com amigos. Isso era ótimo, porque eu sempre tinha alguém pra tirar minhas fotos e pessoas com quem sair nas fotos, e porque eu me sentia segura andando em bando. Mas algumas coisas me incomodavam muito e eu precisava de espaço e privacidade pra que pudesse fazer as coisas que eu só queria fazer, sem ter que abrir mão delas para pensar no coletivo. Pode parecer egoísta, mas não é. Nunca fui aquela pessoa "do contra" nas viagens que fiz em grupo, mas eu precisava respirar liberdade.
Após conhecer várias cidades da Espanha, Portugal, Marrocos, Inglaterra e Alemanha, faltava conhecer os outros lugares que listei como minha prioridades antes de embarcar do Brasil. O problema é que eu não teria companhia para conhecê-los. Opa! Problema? Na verdade, essa foi uma das coisas mais espetaculares que poderia ter acontecido na minha vida.
Apesar dos medos pré-viagem, estar em Paris superava qualquer anseio bobo que pudesse ter passado pela minha cabeça. E, depois, ao estar também em Milão, Veneza, Roma, Barcelona e Coimbra.
Durante os quatorze dias que passei viajando sozinha, eu acordava na hora que eu quisesse, eu parava pra comer na hora que quisesse, eu tirava fotos do que eu quisesse e, o melhor, eu conversava com muita gente. Esse último item foi o que mais me preencheu durante esse tour. As pessoas com quem eu costumava viajar tinham pressa demais, ou preguiça demais, ou eram bem bobas mesmo pra achar que viagem é uma coisa para conhecer apenas pontos turísticos.
Não faço ideia do tanto de gente que conheci, conversei e que troquei experiências durante esse tempo. Independente da língua, independente da cultura, independente da idade, independente do lugar, sempre era possível encontrar uma pessoa legal e também disposta a gastar um pouquinho do tempo com uma desconhecida.
Logo depois da minha viagem nada solitária e muito proveitosa, conheci, ou melhor, redescobri uma pessoa que pude chamar de "amor". 
Hoje, um ano depois de começar a pensar seriamente em fazer um intercâmbio e, enfim, ter coragem de me inscrever para um, percebo o quão maravilhoso Deus foi comigo e como as coisas aconteceram nas horas certinhas. Tudo que aprendi não teria sido aprendido se eu não tivesse chorado, se eu não tivesse vivido situações sozinha, se eu não tivesse conhecido as pessoas que conheci, se eu não tivesse acreditado que seria forte o suficiente para viver os meus sonhos, se eu não soubesse perceber as coisas simples e lindas que aconteciam comigo, e se eu não soubesse entender e aceitar que a realização pessoal não é constituída somente de coisas alegres, mas de tudo que traz aprendizado.

3 comentários:

  1. Que Linda sua história! *-*

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  2. Esse é um dos textos mais lindos que já li, sua linda, PARABÉNS, te adoro.

    Simone Benvindo aqui <3

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  3. Obrigada, queridos. É muito bom saber que pessoas, além de mim, curtiram a minha história, rs.
    Si, minha linda, também te adoro!

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