Hoje completam exatamente 28 dias que cheguei à Santiago de Compostela. É uma pequena parte do tempo que passarei e aqui, mas mudanças já se instalaram em mim, como programas que se instalam em computadores sem pedir permissão.
O que vim buscar no intercâmbio foi, realmente, mudanças. Não queria sair do Brasil apenas para conhecer novos lugares, novas culturas, novas pessoas, e voltar a mesma. Jamais. Queria, aliás, quero conhecer mais a mim mesma, e ganhar muito com isso.
Eu sabia, bem lá no fundo, que esse intercâmbio serviria para trazer lições, as quais eu não teria se continuasse onde estava. Pra começar, logo na primeira semana, eu percebi o quão importante a minha família e os meus amigos são para mim. Não é que eu não soubesse disso, eu sempre soube. Mas quando sentimos, qualquer coisa que seja, é bem diferente de quando apenas dizemos ou achamos.
A abstinência e a saudade tornaram-se mais fortes e evidentes. Eu sempre gostei de dizer que a distância física não é nada, comparada à distância dos sentimentos. Apesar de não querer distância nenhuma, continuo concordando. Só que agora eu percebi uma coisa: não existe mais distância sentimental entre mim e as pessoas que me amam/que eu amo.
Eu comecei a ganhar minha própria grana quando tinha 7 ou 8 anos de idade. A minha primeira profissão foi de vendedora de revistas Hermes. Daí em diante, fui vendedora de lanche na escola, fui artesã, fui professora de reforço escolar, fui secretária, e até pouco tempo atrás eu era bolsista na universidade. Sempre dei muito valor ao dinheiro que ganhei com meu trabalho. E agora, o valor que tenho dado ao dinheiro é redobrado.
Nos primeiros dias aqui na Europa, toda vez que eu ia comprar algo, convertia o seu valor para o real. Era uma forma de saber se realmente valeria a pena comprar. Tive que tentar diminuir essa forma de pensar; caso contrário, não teria comprado quase nada até hoje.
Mas continuo achando válido ter consciência do quanto estou gastando do dinheiro que havia poupado até a viagem e o quanto a minha família está gastando comigo até agora, já que só começo a receber a bolsa da universidade a partir do mês que vem.
Eu também sinto que tô mudando o meu comportamento em relação a mim mesma. Como disse no primeiro texto que postei depois de ter chegado aqui, agora eu tenho que me cuidar. Não é uma questão de querer ou não querer, eu simplesmente tenho que fazer isso. Essa está sendo uma das experiências que mais servirá pra que eu me torne uma pessoa mais forte.
Aceitei a não ter horários. Antes, mesmo com a correria da universidade, eu fazia todas as refeições principais em horários adequados. Agora, por exemplo, são 17:20 da tarde e eu ainda não almocei. Aceitei a não ter horários também por causa do fuso +4. Minha família tenta se ajustar aos horários que eu posso estar on line pra falar comigo e tenho falado com eles todos os dias, mas, ainda assim, não gosto desse fusozinho.
De certa forma, abri mão do cuzcuz com manteiga no café da manhã, do lombo gostoso que me minha faz no almoço, do aipim com carne do sol que comia de vez em quando. Passei a experimentar as comidas locais; provei a sopa tradicional de Galícia (e detestei, rs), comi bocadilho, tomei chocolate quente (feito com chocolate derretido). E o mais importante, estou provando o meu próprio tempero. É isso, estou aprendendo a cozinhar. Nunca leguei de aprender, mas agora estou adorando descobrir um novo dote, rs. Ontem fiz feijão pela primeira vez e ficou muito bom; essa também foi a opinião da minha companheira de intercâmbio.
Quando ao "friozinho", bem, eu estou me adaptando. Comprei um casaco bem potente, haha. Mas quando disse que tô me adaptando, é porque estou me acostumando. Mesmo assim, não vejo a hora de a primavera chegar.
Aprendi a agradecer mais a Deus por cada dia que o sol aparece, aliás, por cada dia que é me dado. E, principalmente, a ter mais fé. Isso nada tem a ver com o fato de eu estar vivendo em uma cidade religiosa, mas com algumas próprias mudanças individuais e internas.
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